Ficha de Leitura III - O Auto-Relato

Los autoinformes
In R. Fernandez-Ballesteros (Ed.) Introducción a la Evaluación Psicológica I, (3ª ed.,pp.323-355). Madrid. Ediciones Pirámide


Um auto-relato refere-se a uma mensagem verbal que um sujeito emite sobre qualquer tipo de manifestação própria, não existindo dúvida de que é o procedimento mais antigo e simples no que respeita à obtenção de informação. O auto-relato é não só capaz de dar conta da experiência subjectiva, como também de uma imensa constelação de eventos tanto internos como externos e, tanto subjectivos como objectivos, o que o torna na categoria metódica mais diversa e rica e, também, mais complexa e difícil de valorizar do ponto de vista científico.
Os auto-relatos, como procedimentos de recolha de informação em psicologia, têm sido fortemente criticados, pois são produto da introspecção e da auto-observação. Utilizados durante os primeiros anos da psicologia em laboratório por estruturalistas e funcionalistas, como métodos para investigar os elementos da consciência, foram rejeitados posteriormente pelos condutistas Watson e Skinner e resgatados pelo condutismo da terceira geração.
Finalmente, o auto-relato foi sempre uma base para a avaliação das características psicopatológicas no modelo médico e, no modelo psicodinâmico, tem ainda em conta a mensagem verbal do sujeito como expressão de construções inconscientes.
Em resumo, o auto-relato pode ser considerado como a mais vasta categoria metódica em avaliação psicológica [p.232].


Características dos auto-relatos

Qualquer informação verbal ou resposta a uma pergunta sobre nós próprios envolve processos de memória, pensamento e linguagem. A informação na primeira pessoa está revestida de grande complexidade [p.233].
Simon et al. conceberam um modelo sobre o processamento de informação aplicável aos relatos verbais. Assim, sucintamente, a informação é armazenada em diferentes estruturas: memória sensorial de muito curta duração, memória de curto prazo (MCP) de capacidade limitada e memória de longo prazo (MLP) de capacidade e armazenamento ilimitados. Sabe-se que a estrutura a que se recorre para formular as informações verbais está ligada à MCP. Uma das limitações da MCP é a sua capacidade, visto que apenas nos dá informação de acontecimentos que se produzem no momento, logo, para se ter acesso a acontecimentos passados é necessário que estes sejam recuperados da MLP onde se encontram armazenados. Posto isto, os aspectos essenciais dos auto-relatos serão o tempo a que se refere a informação – auto-relatos concorrentes (acontecimentos produzidos no momento de relatar), presentes (que ocorrem num tempo presente pouco específico ou presente contínuo) e passados – e o tipo de evento que se solicite – evento armazenado da mesma forma em que se pergunta, ou seja, mais objectivo (e.g., Quando foi à escola pela primeira vez?), ou um evento que requer uma determinada transformação (e.g., A sua professora era exigente?) [p.233].
Os auto-relatos concorrentes (informação disponível na MCP) devem ser, teoricamente, mais fidedignos que os restantes, principalmente quando a informação solicitada requer transformações/elaborações sobre acontecimentos passados. Evidentemente, esta última pode também ser relevante, porém temos de ter em consideração que a fidelidade da informação depende tanto do tempo a que se refere como do nível de transformação que exige e se foi armazenado com esse nível de transformação no momento da produção. Conclui-se assim, que os auto-relatos serão mais exactos quer se refiram a acontecimentos mais actuais, quer tenham sido armazenados com o mesmo nível de elaboração que o solicitado (Nisbett e Wilson, 1977; Ericsson e Simon, 1980; Hollon e Bennis, 1981; Schwartz et al., 1998) [p.234].
Depreende-se, então, que existe uma vasta variedade de acontecimentos narráveis difíceis de categorizar ou classificar. Segundo Hersen e Bellack (1977), um indivíduo pode informar verbalmente sobre vários aspectos: condutas motoras, respostas fisiológicas, pensamentos ou cognições, emoções, e/ou experiências subjectivas relacionadas com determinadas acções ou comportamentos. Contudo, um indivíduo pode informar, igualmente, sobre outras coisas que requerem elaborações, tais como: descrições, qualificações, classificações ou construções sobre si próprio ou acontecimentos externos; as suas atribuições de causalidade (e.g., causa de um determinado transtorno); que estratégias ou sequências de acontecimentos usa para resolver um determinado problema; como descreve oralmente eventos pessoais ou externos; e, finalmente, as suas expectativas futuras de bem-estar, os seus planos e projectos [pp.234,235].
Partindo do modelo base apresentado podem deduzir-se duas das características principais dos auto-relatos: o seu grau de acessibilidade e a sua possibilidade de contrastação.
Tal como foi já referido, a informação que um indivíduo nos fornece teve de ser previamente processada, ou seja, esta tem que ser acessível ao indivíduo. No entanto, nem todos os processos internos são acessíveis (e.g., a percepção de um estímulo e todo o processo envolvido no tratamento e armazenamento dessa informação), logo, é imperativo precisar o grau de acessibilidade de qualquer operação mental [p.235].
Em relação à possibilidade de contrastação, há a referir que apenas parte dos acontecimentos, mencionados anteriormente, acerca dos quais o indivíduo nos poderá informar podem ser contrastados. Assim sendo, por um lado, os auto-relatos acerca de condutas motoras e fisiológicas poderão e deverão ser contrastadas mediante outras provas mais válidas e exactas, enquanto, por outro lado, os processos cognitivos e/ou subjectivos do indivíduo não poderão usufruir desta desejável contrastação. Neste último caso, o auto-relato passa a ser considerado o método directo e prioritário na hora de explorar os conteúdos mentais do ser humano [pp.235,236].
Contudo, é de salientar que, apesar de tudo o que foi aqui exposto, a mensagem verbal que o indivíduo emite sobre si próprio depende da informação solicitada pelo avaliador e das inferências – directas/isomórficas ou indirectas/inferenciais – que este faz acerca da informação fornecida [pp.236,238].
Então, o relato verbal de um acontecimento motor, cognitivo ou psicofisiológico pode ser entendido directa ou isomorficamente, como uma amostra do que o indivíduo faz, pensa, sente ou teoriza. Não obstante, os relatos verbais sobre si próprio podem ser também entendidos indirecta ou inferencialmente, quando destes o avaliador consegue extrair algo diferente do expressado pelo indivíduo, permitindo-lhe posicioná-lo dentro de um determinado grupo normativo [p.238].


Unidades de análise ou variáveis a avaliar

Um dos aspectos mais importantes a desenvolver faz referência à unidade de análise ou tipo de variável sobre a qual se pretende recolher informação.
Desde a perspectiva condutual os auto-relatos têm sido utilizados na recolha de informação sobre condutas-problema, até uma perspectiva mais actual em que são utilizados para a avaliação da conduta cognitiva e ainda de construtos cognitivos.

- Traços, dimensões ou factores
Os procedimentos de recolha de informação mais conhecidos, os testes de personalidade, não são nem mais nem menos que auto-relatos tipificados, construídos através de procedimentos psicométricos que permitem obter a posição de um sujeito numa determinada variável intrapsíquica, a partir da comparação das suas respostas com as de um grupo normativo. Estes instrumentos avaliam tão bem um conjunto de traços como um só construto (ver quadro 1) [pp.240,241].

- Estados
A posição situacionista enfatizou a especificidade do comportamento, isto é, este depende dos estímulos ou situações presentes (ver quadro 2) [p.241].

- Repertórios comportamentais
Desde a perspectiva comportamental rejeitam-se claramente à avaliação os auto-relatos de avaliação de personalidade por razões teóricas. No entanto, os avaliadores do comportamento aceitam o relato verbal dos sujeitos sobre a sua conduta motora, cognitiva e fisiológica, na medida em que estes auto-relatos suponham amostras ou repertórios de conduta e não construtos intrapsíquicos.
A avaliação comportamental dirige-se à análise funcional de transtornos de conduta, e nesse sentido, construiu-se uma série de auto-relatos com o objectivo de avaliar distintos transtornos de conduta como medos, depressão, etc. [p.242].
Os auto-relatos apresentam graus distintos de utilidade na psicologia clínica em função do tipo de dados que se pretende avaliar: são insubstituíveis numa primeira especificação do problema; são imprescindíveis na avaliação tanto de condutas-problema cognitivas como de repertórios básicos de conduta responsáveis pelo comportamento problemático; e são úteis na recolha de uma primeira informação sobre possíveis estímulos ambientais funcionalmente relacionados com as condutas-problema (ver quadro 3) [p.243].

- Repertórios cognitivos
Desde o enfoque cognitivo-comportamental e cognitivo é postulado que os processos cognitivos possam intervir e/ou explicar a conduta manifesta e as respostas fisiológicas.
Os três tipos de auto-relatos sobre construtos cognitivos mais utilizados são: os auto-relatos ligados à percepção que o sujeito tem do seu ambiente; as auto-mensagens ou auto-instruções que o sujeito se coloca; e repertórios relacionados com o funcionamento motivacional. Alguns destes auto-relatos estão na fase experimental e não apresentam garantias suficientes para ser utilizados na prática (ver quadro 4) [pp.243,244].

- Construções ideográficas e narrativa
Desde a perspectiva construtivista que se considera que a experiência subjectiva do sujeito, o seu conceito de si mesmo, como constrói a realidade e o significado que concede ao seu mundo pessoal, social e físico são os aspectos essenciais da avaliação psicológica, variáveis que serão indagadas por meio da expressão verbal do sujeito.
O objectivo da avaliação dirige-se à investigação de construções ideográficas do próprio sujeito e não às construções desenvolvidas pelos psicólogos, como ocorre nas quatro categorias anteriores (ver quadro 5) [p.244].
A maior parte destes instrumentos de autoavaliação requer uma formação específica.


Condicões do auto-relato

Deparamo-nos com algumas dificuldades no que respeita a fazer generalizações acerca dos auto-relatos, na medida em que, apesar de existirem algumas características comuns, se verifica uma grande variedade ao nível do seu conteúdo, nomeadamente no que concerne à forma de fornecer e obter informação, bem como ao seu tratamento [pp.244,245].
Assim, existem diferenças, por exemplo, no que se prende com a recolha de informação verbal de um sujeito, a qual poderá ocorrer em diferentes contextos. Vejamos assim:

- Auto-Relatos realizados em laboratório ou em consulta
O contexto artificial, que pressupõe a consulta do avaliador, é a forma mais frequente de se obter auto-relatos. Os questionários, inventários, escalas e outras técnicas de auto-relatos devem ser administrados em condições standard, uma vez que, desta forma, o sujeito não é incomodado no decorrer da sua prestação, nem as suas respostas são influenciadas por terceiros.
Os auto-relatos consideram-se como sendo de laboratório quando, em situação experimental manipulada em laboratório, o sujeito produz manifestações verbais sobre si, relativamente a uma situação concreta. Neste procedimento são utilizados: testes situacionais, role-playing e tarefas cognitivas. O objectivo principal destes testes é recolher amostras de condutas motoras no momento da sua ocorrência, podendo, no entanto, registar-se também auto-relatos sobre a experiência subjectiva dos sujeitos (mediante procedimentos idóneos). No caso dos dois primeiros, são procedimentos típicos de observação, nos quais a inquirição acerca da experiência subjectiva do sujeito pode ser realizada durante a situação experimental ou após esta.
O registo dos auto-relatos poderá ocorrer no decorrer da aplicação de uma tarefa experimental ou imediatamente após a sua aplicação, na medida em que o que interessa são os processos de pensamento que ocorrem no sujeito durante a resolução da mesma [pp.245,246].

- Auto-Relatos em situação natural
Os auto-relatos em contexto natural permitem que as manifestações verbais do sujeito relativamente às suas respostas motoras, fisiológicas e cognitivas ocorridas no dia-a-dia, sejam registadas no momento em que ocorrem ou pouco tempo depois. Caso o avaliador esteja presente, este poderá registá-las pessoalmente, caso contrário, o sujeito poderá efectuar anotações e entregá-las posteriormente ao avaliador. Este procedimento designa-se de auto-registo ou auto-observação. Pode, ainda, caber ao avaliador, não só acompanhar o sujeito em situações naturais e registar a sua conduta, mas também o que este pensa e sente [p.246].

Existem várias formas de obter os auto-relatos. Os tipos de perguntas mais comuns são os seguintes: a) máxima especificação da resposta e do estímulo que a provoca; b) pergunta em termos gerais, sem especificação situacional; c) seleccionar de entre uma lista as estratégias ou pensamentos que utilizou numa determinada situação; d) auto-observar e registar em tempo real um comportamento previamente definido; e) expressar em voz alta tudo o que lhe passa pela cabeça numa determinada situação; f) enumerar as pessoas importantes da sua vida e compará-las com os seus próprios conceitos; g) pedir-lhe que faça uma narração da sua vida ou, na entrevista, que nos fale da sua infância [p.246].
Estas questões implicam diferentes níveis de estruturação, como veremos a seguir.

- Perguntas estruturadas
Este tipo de perguntas é claramente definido, devendo o sujeito responder de forma também previamente definida. Existem auto-relatos mais gerais e outros mais específicos, na medida em que nos primeiros os comportamentos e situações acerca dos quais o sujeito é questionado não são tão claros, enquanto nos segundos são bem especificados [p.246].

- Perguntas semi-estruturadas
Auto-relatos com perguntas deste tipo apresentam uma estruturação mínima, permitindo, assim, uma maior flexibilidade e ideografismo. Assim, é muitas vezes concedida ao sujeito uma folha de registo na qual ele deve anotar o acontecimento acerca do qual pretende informar. A título de exemplo, considerem-se os auto-registos [p.247].

- Perguntas não-estruturadas
Aqui, existe total liberdade por parte do sujeito para fazer um auto-relato. No caso das entrevistas não-estruturadas ou da autobiografia, por exemplo, é requerida apenas uma pergunta muito vaga. A utilização de técnicas menos estruturadas é, pois, aconselhável nas primeiras fases da avaliação, devendo as mais estruturadas utilizar-se no momento de especificar e operativizar os comportamentos [p.247].

Todo o auto-relato pode ser considerado como um conjunto de respostas a uma série de estímulos. São quatro as alternativas de resposta mais frequentes dos auto-relatos: dicotómica, escalar, ordinal e aberta.
A resposta dicotómica diz respeito a uma afirmação normalmente seguida de uma dupla alternativa de resposta em termos de “Sim ou Não”. A resposta escalar diz respeito a afirmações seguidas de uma escala (de 3 ou mais pontos) de modo a determinar se um dado estímulo é aplicável ao sujeito e em que medida. A resposta ordinal diz respeito à ordenação dum conjunto de elementos por ordem de preferência. Finalmente, a resposta aberta usa-se quando se pretende conhecer mais amplamente o que a indivíduo pensa e sente, dando-lhe liberdade para responder como quiser [pp.247,248].

- Construção dos auto-relatos e tratamento dos resultados
Um último aspecto importante no respeitante aos auto-relatos refere-se à sua construção e à posterior manipulação a que irão ser submetidas as respostas dos sujeitos.
Três, são os tipos de estratégias utilizados na construção de um auto-relato ou de qualquer outra técnica de medida: racionais, empíricas e factoriais. Assim, a perspectiva racional pressupõe a existência de uma teoria de base. As estratégias empíricas partem de dados obtidos mediante a aplicação do instrumento a sujeitos que manifestem a característica em estudo, os quais devem variar sistematicamente, analisando-se, então, quais os itens que se revelam discriminativos. Por último, a análise factorial diz respeito à selecção dos elementos dos auto-relatos em função do seu peso factorial num determinado factor ou na sua adequação a matrizes multimétodo-multirrisco [pp.248,249].
Os resultados provenientes dos auto-relatos de um sujeito podem ser, quer comparados com os dados de outros sujeitos, quer tomados directamente. No primeiro caso (auto-relatos standard), a pontuação obtida por um sujeito é convertida numa pontuação normalizada que dá conta da posição relativa do sujeito num grupo de referência, não possuindo as respostas dos sujeitos uma significação em si mesmas se não forem comparadas com as de outros sujeitos. Já no caso de auto-relatos específicos (não standard), tais comparações não são possíveis, podendo a pontuação que deles se obtém ser usada das seguintes formas: a) como o nível de ocorrência de uma determinada conduta objecto de estudo; b) segundo o grau na qual o aparecimento duma conduta difere dum critério previamente estabelecido; c) segundo as diferenças supostamente devidas a um tratamento entre dois auto-relatos aplicados antes e depois deste se ter sido produzido.
Finalmente, as respostas abertas que aparecem em alguns auto-relatos devem ser estudadas através de uma análise de conteúdo, a qual é particularmente útil na análise das produções narrativas do sujeito [pp.249,250].


Principais Tipos de Auto-relatos

Os auto-relatos dividem-se em cinco categorias, consoante o procedimento utilizado para recolher a informação. Passaremos a ver, de seguida, as suas características.

- Questionários, Inventários e Escalas
Quando um conjunto de auto-relatos estruturados surge reunido sob a forma de uma lista, costuma adoptar a designação de questionário, inventário ou escala. Todos eles partilham o facto de possuírem um formulário de perguntas ou afirmações perante as quais o sujeito deve responder, quer segundo uma alternativa dicotómica («sim», «não»; «verdadeiro», «falso»), quer anotando o seu grau de conformidade segundo uma escala ordinal, quer elegendo ou ordenando os elementos segundo a sua preferência, quer segundo uma escala de intervalos adjectivada, ou com adjectivações adverbiais, ou numérica. No caso dos inventários, o sujeito pode, ainda, ter de ordenar os estímulos apresentados, quer obedecendo a uma ordem numérica, quer seleccionando o estímulo preferido e o rejeitado. Os estímulos seleccionados, sejam afirmações, actividades ou adjectivos podem ser pontuados segundo uma escala (numérica, gráfica ou verbal). As escalas, sobretudo as de adjectivos, podem apresentar diversos formatos: escalas acumulativas, de intensidade, de ordem, de escolha forçada, com ponto neutro ou com selecção ideográfica em formato de comparação [pp.250-253].
De um modo geral, os questionários implicam respostas expressas de forma dicotómica ou nominal, os inventários apresentam diversas possibilidades de resposta (nominal ou ordinal) e as escalas, assim como as listas de adjectivos e outros instrumentos semelhantes, apresentam respostas em intervalos.
A diferença entre estes instrumentos reside em dois aspectos: o tipo de estratégia utilizada para a sua construção (o que determina se avaliam construtos nomotéticos ou idiográficos) e o tipo de resposta que exigem ao sujeito (o que se prende com o tipo de escala – nominal, ordinal ou intervalar) [p.253].
Estes tipos de auto-relatos são os mais frequentes na avaliação tradicional (avaliação de traços), apresentando como principais características as seguintes: 1) são auto-relatos estruturados, quer no que se refere à pergunta formulada, quer no que se refere à resposta exigida; 2) avaliam comportamentos, ou classes de comportamentos, especificados a priori; 3) requerem informação acerca do que se verifica habitualmente e que o sujeito conhece bem; 4) apesar das perguntas se referirem a temas da vida real, são apresentadas de forma verbal e as respostas registadas de forma estruturada; 5) existem diversas formas de classificação, desde pontuações normativas a análises de perfil ou de conteúdo [p.253].

- Auto-registos
Ao contrário dos auto-relatos anteriores, os auto-registos servem para avaliar diversos comportamentos. Como principais características desta técnica temos as seguintes: 1) consiste numa técnica semi-estruturada, na qual se fornece ao sujeito uma folha de papel onde consta o comportamento específico que deve anotar, bem como as condições específicas em que deve fazê-lo, cabendo inteiramente ao sujeito o cumprimento de tal protocolo; 2) geralmente, o comportamento é anotado no momento em que ocorre, apesar de em certas ocasiões se poder pedir ao sujeito que o faça apenas depois da sua ocorrência; 3) é uma técnica de utilização em situações naturais [p.253].
De acordo com Ciminero, Nelson e Lipinski existem quatro dispositivos fundamentais de auto-registo: técnicas de lápis e papel, contadores de resposta, dispositivos de tempo e dispositivos electrónicos.
As técnicas de lápis e papel são as mais frequentemente utilizadas, dada a sua simplicidade e aplicabilidade. A mais simples é aquela em que figuram apenas duas unidades de tempo (dias da semana e horas do dia, por exemplo), devendo o indivíduo assinalar todos os intervalos de tempo em que o comportamento sujeito a análise ocorra. Este tipo de auto-registo pode requerer, também, a observação dos acontecimentos antecedentes (lugar em que ocorreu, situação, etc.) e consequentes (acções das pessoas presentes, pensamentos e sentimentos do sujeito, etc.) do comportamento que é objecto de estudo, podendo estes ser internos ou externos. Desta forma, existe a possibilidade de explorar as condições ambientais. A planificação do auto-registo reveste-se de grande importância, sendo constituída pelos seguintes passos: 1) selecção, denominação, definição e delimitação do comportamento que constitui o objecto de observação; 2) definição dos parâmetros relevantes à análise do comportamento (frequência, duração, intensidade, etc.); 3) delineação do formato de auto-registo; e 4) preparação do sujeito para a sua realização. Este último pressupõe três etapas: a) explicação pormenorizada dos comportamentos a ser observados; b) exemplificação; c) compromisso verbal ou escrito entre avaliador e sujeito [pp.253-256].
Os contadores de resposta constituem procedimentos mecânicos para registar a frequência de um dado comportamento, enquanto os dispositivos de tempo servem para registar a sua duração. Um exemplo deste último é o cronómetro. Dentro dos dispositivos electrónicos encontramos as câmaras de vídeo e os gravadores, os quais permitem um registo fiel do comportamento, ou simplesmente o seu relato [p.256].
Os auto-registos estão particularmente indicados nos seguintes casos: 1) quando se pretende especificar, quantificar e analisar um comportamento previamente detectado (por outros tipos de auto-relato); 2) quando se trata de comportamentos motores ou fisiológicos que se supõe estarem relacionados com mediadores internos; 3) quando se trata de comportamentos observáveis, mas íntimos; 4) em todos os casos em que a observação ou o registo do comportamento sejam inviáveis. Relativamente à sua validade, não existem dados suficientes que permitam uma especulação a esse respeito. No que respeita à sua fiabilidade, pelo contrário, encontra-se comprovada a sua debilidade [pp.256,257].

- Pensamento-em-Voz-Alta
As técnicas de pensamento-em-voz-alta apresentam como características mais relevantes as seguintes: 1) são técnicas não estruturadas (permitem qualquer tipo de resposta e não colocam questões específicas); 2) a verbalização ocorre em simultâneo com a produção do comportamento analisado; 3) tais verbalizações registam-se, geralmente, em laboratório ou em consulta, pois respondem a estímulos concretos administrados pelo examinador [p.257].
Os três procedimentos mais frequentes de recolha de pensamentos-em-voz-alta são: o monólogo contínuo, as amostras de pensamento e o registo de acontecimentos. A primeira consiste na verbalização de pensamentos e sentimentos, por parte do sujeito, simultaneamente à realização de uma determinada tarefa. A segunda passa por solicitar ao sujeito que, em intervalos de tempo seleccionados, verbalize o que está a pensar. A última, por sua vez, assemelha-se ao auto-registo na medida em que o sujeito deve assinalar quando o comportamento em análise tem lugar, o que pode ser feito recorrendo a um gravador ou câmara de filmar, apesar de tal levantar questões éticas, entre outras. No que concerne à análise dos dados obtidos através destes procedimentos, tal é possível através de uma simples categorização do conteúdo verbal em função da análise prévia da tarefa. Pode, ainda, ser realizada uma análise tendo por base um esquema teórico.
Finalmente, é necessário ter em conta que estas técnicas devem ser sempre complementadas por outras que permitam aumentar o seu controlo [pp.257,258].

- A entrevista
A entrevista constitui uma das técnicas básicas de avaliação e a mais importante em auto-relatos, na medida em que pressupõe um intercâmbio directo e presencial entre duas pessoas, em que se recolhem informações (referentes ao entrevistado ou acontecimentos relevantes) transmitidas pelo sujeito [p.259].
Na entrevista e como complemento a esta destacam-se outras técnicas, como a história clínica e a anamnese. Estas técnicas têm características muito semelhantes, na medida em que: se adaptam a quaisquer contextos (clínicos, escolares, organizacionais ou situações de investigação básica); podem diferir em grau de estruturação ou situação; é fundamental a participação pessoal do entrevistador; extrai-se informação tanto dos relatos verbais do sujeito como das suas respostas motoras e não verbais; permite obter os primeiros dados sobre o sujeito; é uma técnica longitudinal (aplica-se ao longo de todo o processo avaliativo e durante o tratamento) [p.259].

- A autobiografia
Na sequência da importância atribuída à subjectividade, a autobiografia (também designada historicamente, de história de vida ou revisão de vida) surge como uma técnica de avaliação qualitativa dessa característica (subjectividade), a partir da análise da narração do sujeito, o qual recorre à sua memória autobiográfica, sendo utilizada como método terapêutico [pp.259-261].
Svensson y Randall (2003) definem autobiografia como “a expressão narrativa da vida de uma pessoa interpretada e articulada por ela mesma”, pressupondo assim, auto-relatos através dos quais o sujeito se expressa, descreve, explica e interpreta as suas experiências subjectivas ao longo do seu ciclo de vida.
Alguns autores definiram algumas técnicas autobiográficas tendo essas, objectivos mais terapêuticos que avaliativos. Em termos avaliativos, a autobiografia, tem adoptado formas distintas, num processo contínuo de estruturação: desde a realizada espontaneamente pelo sujeito, como à estruturada pelo próprio investigador, com vista a efectuar comparações entre relatos de diferentes pessoas sobre um mesmo acontecimento ou circunstâncias da vida. Baltes y Deutchman (1991) (com o objectivo de terem algum material escrito), definem alguns temas como família, carreira, dinheiro, saúde e amor [p.260].
A autobiografia pode ser complementada recorrendo a técnicas que permitem investigar acontecimentos do passado a partir da história narrada, bem como validar os sucessos e situações narradas, recorrendo a diários, livros de autógrafos, colecções, cartas, fotografias e outros documentos pessoais.
O entrevistador também poderá recorrer a técnicas concorrentes, tais como Life Line ou a LL, para ajudar o sujeito a recordar acontecimentos importantes e as próprias experiências subjectivas.
A LL (versão de Schroots, 1996) consiste numa técnica gráfica, em que se distribui um espaço com um eixo de duas coordenadas. A linha horizontal corresponde ao período de tempo em que se marca a idade do sujeito desde o nascimento até ao momento da avaliação (reservando-se um espaço à direita para indicação de perspectivas futuras) e a linha vertical indicará dois espaços de expressões subjectivas (superior e inferior) do sujeito em relação à linha horizontal, sendo esses espaços representativos de emoções positivas (superior) e negativas (inferior). A distribuição é efectuada pelo próprio sujeito, pedindo-lhe que assinale acontecimentos da sua vida que tiveram efeitos emocionais positivos e/ou negativos [p.260].
Para além desta técnica, poderão ser evocadas circunstâncias que tenham provocado alterações importantes e irreversíveis na vida do sujeito, como forma de ajudar a recordar acontecimentos biográficos.


Algumas questões sobre a qualidade dos auto-relatos

Pelas suas características muito próprias (já relatadas ao longo do relatório) não é fácil avaliar a qualidade dos auto-relatos, na medida em que estes variam significativamente ao nível das suas características: variáveis que avaliam; operações internas que exigem do sujeito; o momento em que se alega o acontecimento descrito; o tipo de elaboração ou inferência que o avaliador realiza; tipo de perguntas que contém; tipo de respostas que exigem. Ao verificar a qualidade destes instrumentos deveria adicionar-se o tipo de critério através do qual se estabelece a sua qualidade científica [p.261].
Os auto-relatos, para além dos erros próprios da observação (reactividade, dependência do entendimento do observador, etc.) e na medida em que o auto-observado pressupõe uma execução ou atributo do próprio observador, estão sujeitos a uma série de distorções (fontes de erro) independentemente do seu conteúdo (do que se pretende investigar) [p.262].
Identifica-se como fonte de erro a distorção de resposta, a qual poderá ser entendida segundo duas perspectivas: como factor distorcionante dos resultados dos auto-relatos e como variáveis de personalidade (estilos de resposta). Na origem deste tipo de distorção considera-se: que o sujeito de forma consciente, tenta falsear os resultados do auto-relato - simulação; que o sujeito, involuntariamente, se auto-descreve em consonância com a imagem socialmente esperada - desejabilidade social; que o sujeito responde mais em função do tipo de alternativa de resposta que se encontra no auto-relato do que atendendo ao conteúdo da pergunta formulada - tendências de resposta.
A simulação é uma das mais importantes fontes de erro. Assim, alguns investigadores procuram formas de controlar este tipo de distorção recorrendo a procedimentos como, apelar à cooperação e honestidade dos sujeitos (em questionários ou contacto pessoal) e construindo auto-relatos que permitam detectar “mentirosos” e assim eliminar os questionários, bem como corrigir os resultados mediante pontuações de escalas (a escala “L” de MMPI, “Si” de EPI, de Eysenck, que permitem detectar falseamento de respostas). Mais recentemente a simulação foi conceptualizada como uma alternativa bipolar (impressão negativa e impressão positiva) as quais podem ser controladas através de escalas especiais em questionários de personalidade (MMPI ou 16-PF) [pp.262, 263].
A desejabilidade social foi detectada em respostas a auto-relatos clássicos (Edwards, 1975), mas também em auto-relatos condutais (Fernández-Ballesteros, Pérez Pareja y Maciá, 1981). Segundo Bardburn y Sudman (1979), para além de um factor de erro, a desejabilidade social deverá ser considerada como um indicador de adaptação social do sujeito [p.263].
As tendências de respostas estão relacionadas com o formato adoptado para os auto-relatos, os quais diferem no formato de resposta utilizado: respostas dicotómicas em que se verifica uma tendência do sujeito para o consentimento (respostas afirmativas) às questões formuladas; respostas de escalas adjectivadas de três ou mais alternativas de resposta, verifica-se uma tendência para responder bem no centro ou bem nos extremos da escala, independentemente das questões formuladas [p.263].


Conclusão

Podemos concluir que os auto-relatos são o método de recolha de informação mais utilizado na avaliação psicológica, constituindo a base da maioria dos questionários, inventários, listas de adjectivos, entrevistas, etc. Dadas as suas características e formas diversificadas constituem um recurso bastante útil, tanto na área de investigação como em trabalhos práticos. No entanto, esta técnica conta com determinadas fontes de erro (distorções) que deverão ser controladas.
Com vista a melhorar a qualidade dos auto-relatos (e consequentemente, torná-los mais fiáveis), deverão ser consideradas aspectos como: motivação dos sujeitos em dar respostas exactas; a actualidade dos acontecimentos relatados; experiência do sujeito, tanto em relação à situação, como à conduta a ter na informação a relatar; mínimo de inferências sobre o acontecimento relatado (excepto se for esse o objecto do estudo); mínimo de inferências, por parte dos avaliadores, sobre os dados dos auto-relatos e questões colocadas de forma mais específica e menos ambíguas [p.264].











Questionário de Personalidade MMPI

A prova MMPI (Minnesota Multiphasic Personality Inventory), que constitui um importante instrumento de psicodiagnóstico nas actividades clínicas, de orientação e selecção, foi criada por S. R. Hathaway e J. C. Mckinley, tendo sido publicada pela primeira vez em 1943 pela University of Minnesota. Só mais tarde, em 1945, foi autorizada a sua publicação à Psychological Corporation.
A população a que se destina compreende os indivíduos com pelo menos 16 anos e o 6º ano de escolaridade. O seu objectivo é proporcionar uma avaliação subjectiva de algumas das mais importantes dimensões da personalidade, relacionadas com a adaptação pessoal e social do sujeito, pelo que se considera uma prova multidimensional.
Os itens são avaliados segundo três tipos de escalas: escalas de validação, escalas clínicas e escalas adicionais. Relativamente ao primeiro tipo encontramos a escala Interrogante (?), a de Sinceridade (L), a de Pontuação de Validade (F) e a do Factor Corrector (K). No que respeita ao segundo tipo existem as escalas de Hipocondria (Hs), Depressão (D), Histeria (Hy), Desvio Psicopático (Pd), Masculinidade-Feminilidade (Mf), Paranóia (Pa), Psicastenia (Pt), Esquizofrenia (Sc), Hipomania (Ma) e Introversão Social (Si). Já por último, temos as escalas de Força do Eu (Es), Dependência (Dy), Dominância (Do), Responsabilidade (Re) e Controlo (Cn).
Os itens acima mencionados abrangem as seguintes temáticas: saúde, sistema nervoso, sensibilidade, família, hábitos, ocupações, educação, atitudes, afectos, fobias, estados de ânimo, entre outros.
Na sua edição original (a americana), a prova apresenta-se em três formatos: a forma individual, a forma colectiva e a forma R. A forma individual, que foi a primeira a ser utilizada, é constituída por 550 frases impressas separadamente em pequenos cartões, que o indivíduo deve ler e separar em três grupos (Verdadeiro, Falso e Não sei). Quanto à forma colectiva, esta contém 566 elementos, os quais se apresentam num caderno, devendo o sujeito responder numa folha de respostas. A forma R, por sua vez, é constituída por 399 itens, partilhando do mesmo conteúdo que a forma colectiva, apesar de disposto de forma diferente. Consoante a forma, a duração de aplicação da prova varia entre 45 e 60 minutos.
A escala aqui anexada refere-se à forma colectiva, sendo composta por um caderno com 566 itens, uma folha de respostas e de perfil para a correcção manual, e uma folha de respostas para a correcção mecanizada.





1 comentários:

Margarida Pocinho disse...

nao consigo ver

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