Ficha de Leitura III - Carla Tanganho [24134]

A elaboração da presente ficha de leitura deu-nos a conhecer aquele que é o método de recolha de informação por excelência: os auto-relatos. Estes consistem, basicamente, no relato de pensamentos, sentimentos, etc., por parte do sujeito que os vivencia. No entanto, apesar da diversidade e riqueza dos dados que oferecem, a subjectividade que lhes é inerente tem sido a principal crítica que lhes é apontada.

Distinguem-se por oferecerem um acesso directo a informações acerca da vida do sujeito que, de outro modo, seria de todo impossível conhecer. Algo a ter, pois, em consideração aquando da utilização desta técnica de recolha de informação são os processos de memória e as limitações inerentes a esta. Isto porque todo o processo de auto-relato implica um maior ou menor esforço de recordação por parte do sujeito, consoante a informação acerca da qual é questionado se encontre mais ou menos acessível na sua memória. A memória auto-biográfica è aquela que sofre uma maior activação, uma vez que se encontra directamente ligada aos acontecimentos que constituem o percurso de vida do sujeito. No entanto, esta nem sempre se encontra disponível, pelo que um aspecto que é importante não esquecer é o de que não podemos contar com a total veracidade daquilo que o sujeito relata. Tal encontra-se relacionado com a questão da elaboração do sujeito relativamente à informação que transmite, a qual pode revelar-se uma relevante fonte de erro. Outro tipo de memória a que o sujeito tem necessariamente de recorrer a fim de expressar o que pensa é a memória semântica, a qual possibilita ao avaliador captar o sentido que o sujeito atribui às suas memórias, bem como a representação que tem de si mesmo.

Os auto-relatos variam quanto ao grau de estruturação que podem apresentar. Dentro daqueles que se consideram estruturados temos as escalas. Nestas, o indivíduo é levado a posicionar-se perante um conjunto de afirmações que se encontram sob a forma de uma lista, sendo que é bastante importante que os itens que as constituem sejam o mais concreto possível. No que respeita aos menos estruturados, de que são exemplo os auto-registos e a entrevista, o sujeito possui uma maior liberdade de expressão, por assim dizer, pois são já requeridas as suas capacidades comunicativas. A partir do momento em que o sujeito tem de se exprimir utilizando as suas próprias palavras, torna-se mais fácil para o avaliador saber ainda mais acerca do mesmo, uma vez que o tipo de linguagem empregue e, sobretudo, a forma como uma pessoa fala podem ser bastante reveladoras acerca de si, da sua forma de ser, do modo como encara as mais diversas situações. Considero, pois, que os auto-relatos, ao permitirem uma apreciação qualitativa, permitem o reconhecimento da pessoa enquanto indivíduo único que é.

Apesar de todas as vantagens desta técnica, a subjectividade que lhe é própria constitui um problema no que respeita à interpretação da informação assim recolhida. A desejabilidade social é um destes problemas, pois o sujeito pode não ser completamente sincero no respeitante à posição que assume derivado do facto de querer que esta seja reveladora daquilo que é socialmente aceite. No entanto, penso que tal poderá, também, ser revelador de certas características pessoais do sujeito.

Concluindo, percebi que o auto-relato constitui um importante método de obtenção de informação por parte do sujeito, ainda que pressuponha uma constante vigilância por parte do psicólogo, pois muitas vezes aquilo que o sujeito relata pode não corresponder verdadeiramente àquilo que ele pensa e sente.

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