Ficha de Leitura III - Telma Ourives [18333]

Um auto-relato refere-se a uma mensagem verbal que um sujeito emite sobre qualquer tipo de manifestação própria. Este é um dos métodos que se podem utilizar em psicologia para avaliar o comportamento de determinada pessoa, a fim de fazer inferências sobre o mesmo e de talvez delinear um plano de intervenção.

Os auto-relatos são vantajosos na medida em que permitem recolher informação variada acerca, não só de comportamentos motores e respostas fisiológicas, como também acerca das suas experiências subjectivas, emoções, pensamentos e cognições. No entanto, e apesar de ser verdade que só através do próprio indivíduo se pode ter acesso aos seus pensamentos, às perspectivas que tem relativamente às suas experiências, este método não é dos mais fiáveis. É, pois, realmente difícil avaliar os comportamentos das pessoas tendo em conta apenas e só o que elas nos contam ou mostram e o facto de estarmos a avaliar comportamentos com base no que as pessoas nos dizem, pode levar a enviesamentos, como por exemplo, as pessoas podem dizer não o que realmente pensam, mas sim o que acham que é socialmente correcto dizer ou pensar (desejabilidade social).

São cinco os tipos de auto-relatos: questionários, inventários e escalas; auto-registos; pensamentos em voz alta; entrevistas; e, a autobiografia. Cada um deles é seleccionado conforme o tipo de informação que se quer recolher. No caso da entrevista, a mais importante dentro dos auto-relatos, esta é talvez uma das técnicas mais abrangentes, na medida em que se adaptam a quaisquer contextos, podendo abordar-se vários aspectos acerca do que se pretende avaliar. Neste caso, é também importante realçar a existência da interacção entre entrevistador e entrevistado, uma vez que esta interacção possibilita a recolha de informação não só de cariz de verbal, mas também de cariz não verbal acerca do indivíduo.

É também importante referir que o tipo de perguntas que o avaliador coloca e o tipo de linguagem que utiliza poderão influenciar o tipo de respostas dadas pelo indivíduo e o fornecimento ou não de informações relevantes, logo, é imperativo que o avaliador tenha esse factor em conta a fim de utilizá-lo da melhor forma. Numa primeira fase de avaliação, é mais aconselhável a utilização de perguntas não-estruturadas, pois, estas dão uma maior liberdade ao indivíduo avaliado, podendo-se expressar livremente. No entanto, em fases posteriores é necessária uma certa dose de estruturação a fim de especificar e operativizar os comportamentos do indivíduo.

Já, por exemplo, no caso da autobiografia, em que o sujeito narra a sua história de vida, o avaliador tem que ter em consideração o tempo a que os acontecimentos se reportam, uma vez que é difícil relembrar fielmente as situações passadas. Assim, o que o sujeito nos conta poderá não corresponder totalmente à verdade, não porque não queira, mas sim porque a nossa memória não é infalível e o nosso cérebro tem tendência para criar a nossa realidade, recriando os acontecimentos passados, acrescentando e retirando factos.

Concluo, assim, que apesar de os auto-relatos serem muito úteis, visto que é através da comunicação verbal que o psicólogo poderá conhecer o indivíduo mais a fundo, deixam também muito a desejar, na medida em que apenas parte dos acontecimentos acerca dos quais o indivíduo nos informa poderão ser comprovados/contrastados.

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