Ficha de Leitura II - Técnicas Psicométricas: Os Testes


Calero, M.D. & Padilla, J.L. (2002).
Tecnicas psicométricas: los tests
In R. Fernandez-Ballesteros (Ed.) Introducción a la Evaluación Psicológica I, (3ª ed.,pp.323-355). Madrid. Ediciones Pirámide


Técnicas psicométricas são normalmente sinónimo de testes psicológicos. Um teste, segundo McKeen Cattell (1890), constitui um procedimento de recolha de amostras de comportamento de um indivíduo, de forma a estimar um repertório ou inferir um construto psicológico suficientemente sistemático para ser repetido e comparável.

Cattell considerava que a característica fundamental que diferenciava os testes de outras técnicas era o facto de serem estruturados, tanto em função da natureza do estímulo, como em função da liberdade de resposta à tarefa, que deve ser totalmente restrita. Tinham, pois, de ser claros e não ambíguos, bem como uniformes. Assim, segundo Anastasi (1982), um teste psicológico é uma medida de amostra objectiva e estandardizada do comportamento de uma pessoa, na medida em que os procedimentos de aplicação, materiais e sistemas de pontuação, permanecem constantes, isto é, invariantes no tempo e independentes de quem aplique o teste [p.324].

Um teste psicológico apresenta como características fundamentais o facto de possuir material, instruções e modos de aplicação e interpretação estandardizados; fazer com que o resultado obtido pelo sujeito seja independente do profissional que realiza a avaliação; ser quantitativo, isto é, oferecer um resultado numérico; e estar tipificado, o que significa que a sua interpretação só tem sentido a partir da comparação das pontuações obtidas pelo sujeito com um grupo que se estabelece como norma.

Apesar das críticas recebidas, as quais, apesar de tudo, contribuíram para a elaboração de novas técnicas de avaliação, o uso de testes de avaliação continua a ser bastante utilizado quando o que se pretende é a contrastação de hipóteses a nível correlacional, ou quando o objectivo do processo é a descrição, selecção e/ou a orientação do sujeito, ou ainda quando se trata de avaliar o grau em que o sujeito apresenta um determinado repertório comportamental.

Em suma, durante os primeiros 50 anos, a história da Avaliação Psicológica esteve relacionada de forma significativa com o desenvolvimento dos testes, os quais têm desempenhado um papel importante na Psicologia aplicada [p.325].


Processo geral de elaboração de testes a partir da teoria clássica dos testes (TCT)

O processo utilizado para a elaboração de um teste contribui claramente para a qualidade das medições obtidas. Este processo segue uma série de passos – identificação do objectivo, definição do construto, desenho do teste, redacção dos itens, análise de itens, análise da fiabilidade e validade, normas de interpretação – aplicáveis à elaboração de testes de aptidão ou rendimento, questionários, inventários ou escalas para medir interesses, atitudes, sentimentos, entre outros. Para que o instrumento contribua para a qualidade das medições é necessária a realização de todos os objectivos incluídos em cada um dos passos do processo. As características principais do processo de elaboração são: a) sistematicidade e ordem; b) flexibilidade; e c) “controlo de qualidade” [p.326].

1º Passo: Identificação do objectivo previsto para o teste
O processo de elaboração de um teste deve ser iniciado pela ponderação atenta dos fins para os quais se utilizará a informação fornecida pelo mesmo: predição, classificação, diagnóstico, etc. Definir objectivos concretos, ou estabelecer prioridades entre as possíveis aplicações do teste melhorará o processo de elaboração. Prieto e Delgado (1996) definiram quatro categorias gerais de objectivos para os quais, habitualmente, se aplicam os testes ou questionários: medição de um construto teórico, avaliação académica ou comportamental, selecção de pessoal e classificação diagnóstica [pp.326,327].
Além disso, dever-se-á, igualmente, analisar o “contexto” no qual se utilizará o teste. Dentro deste, podemos destacar três elementos aos quais se deve prestar especial atenção: as características da população à qual o teste é dirigido (e.g., idade, nível de escolaridade, classe social, meio rural ou urbano, língua materna); restrições temporais (definir o tempo necessário para a elaboração do teste, o qual é imposto na maioria das vezes pelas características da população à qual é aplicado ou pelo contexto de aplicação); e administração individual ou colectiva [pp.327,328].

2º Passo: Definição do construto que se pretende medir
A primeira fonte de informação sobre a definição do construto é a teoria sobre o construto. É com base nesta que se deve estabelecer a rede de relações entre o construto e outros construtos ou variáveis de relevância prática – definição sintáctica – e a relação dos indicadores comportamentais representativos do construto – definição semântica (Lord e Novick, 1968) [p.328].
O objectivo deste passo é a identificação dos comportamentos que representam o construto. Na maioria das ocasiões este é considerado o passo mais difícil do processo [p.328].

3º Passo: Desenho do teste
Este passo tem como finalidade a descrição detalhada e precisa da estrutura do teste e dos itens. Pretende-se, pois, assegurar que os itens espelhem o objectivo e a definição do construto cumpridos nos passos anteriores [p.329].

4º Passo: Redacção dos itens
Com base nos passos anteriores – definição de construto e especificação do teste e conteúdos principais – o autor do teste deve formular os itens para cada um dos indicadores previstos do construto. O objectivo desta redacção dos itens é que cada um reflicta com a maior exactidão possível o comportamento indicador do construto recolhido na definição. Dever-se-á, também, evitar ou minimizar o aparecimento de potenciais erros que possam contaminar as inferências efectuadas a partir das pontuações obtidas no teste perante o construto que se pretende avaliar. Assim, aquando da elaboração de testes deve-se ter cuidado para não introduzir erros gramaticais que possam gerar ambiguidade na interpretação [pp.329,330].

5º Passo: Análise de itens
Depois de escolhido o conjunto inicial de itens há que julgar a sua qualidade, seleccionando, deste modo, itens de qualidade para a versão final do teste. Para avaliar a qualidade dos itens é necessário considerar dois critérios: a dificuldade dos itens, a qual tem sentido quando se elabora um teste de aptidão ou rendimento em que as respostas dadas podem ser avaliadas em “correctas” ou “incorrectas”, sendo que quanto maior for a percentagem de respostas correctas mais fácil se torna o item; e a discriminação dos itens, a qual se refere ao grau em que as respostas das pessoas a um determinado item se relacionam com as pontuações totais no conjunto dos itens. A selecção dos itens baseia-se na relação comprovada entre a discriminação dos itens e a consistência final do teste.
Assim, a partir da informação fornecida pela análise dos itens elabora-se a versão preliminar do teste [pp.330,331].

6º Passo: Análise da fiabilidade e validade das medições
A versão preliminar do teste conseguida no passo anterior deve, então, ser aplicada a uma nova amostra de pessoas com a finalidade de obter dados para analisar a fiabilidade e validade das medições [p.331].

7º Passo: Elaboração das normas de interpretação das pontuações
Finalmente, este último passo no processo de elaboração de um teste refere-se à criação de parâmetros ou critérios para interpretar os resultados [p.331].


Outras aproximações à construção de testes desde a teoria clássica dos testes

Apesar do processo exposto anteriormente se poder aplicar, na sua generalidade, a uma grande variedade de testes, também existem outras aproximações à construção de instrumentos psicométricos de avaliação [p.331].

Construção Racional
A aproximação racional inicia o processo de elaboração do teste com a redacção do conjunto inicial de itens, que se constroem de forma que seja evidente a partilha de relações lógicas ou racionais com o construto. Seguidamente, são administrados a uma amostra para os submeter a uma análise de itens. Finalmente, selecciona-se o número desejado de itens de qualidade para a versão final do teste ou questionário [pp.331,332].

Construção Empírica
A construção empírica de questionários baseia-se nas diferenças postuladas ou encontradas entre as respostas das pessoas sobre as dimensões de interesse, em vez dos itens em si.
A diferença em relação ao procedimento anterior é que se podem incluir itens cujo conteúdo não tenha uma relação óbvia com a dimensão que se está a medir.
Existem três características relevantes para esta estratégia de construção – a utilidade para objectivos aplicados; a constatação empírica a posteriori das diferenças entre os grupos de interesse num critério ou dimensão de relevância prática; a contrastação através da semelhança das respostas de diferentes grupos critério [p.332].

Construção Analítico-Factorial
Esta estratégia de construção enfatiza a estrutura interna final do questionário. Caracteriza-se por analisar factorialmente uma grande quantidade de itens, geralmente de diferentes testes, para determinar as dimensões básicas que subjazem ao conjunto de itens. Estas dimensões básicas convertem-se em escalas ou factores, e os itens com cargas factoriais mais altas nos ditos factores são utilizados, finalmente, para construir o teste ou questionário.
Poderia concluir-se que a aproximação analítico-factorial supõe uma mistura das aproximações anteriores – da racional, ao insistir que o conteúdo dos itens reflecte a dimensão ou construto objecto da medição, o que permite dar nome aos factores encontrados na análise; e da empírica, ao primar na selecção dos itens a correlação de um critério, neste caso o factor em si [p.333].


Processos de construção a partir da teoria de resposta ao item

Talvez a maior mudança que os métodos psicométricos experimentaram nas últimas décadas tenha sido a substituição gradual da teoria clássica de testes (TCT) pela teoria de resposta ao item (TRI) no que respeita aos testes de aptidão e/ou aproveitamento [p.333].
Tem-se verificado a substituição, em certas áreas, da TCT pela TRI, pois os modelos desta última permitem uma maior flexibilidade no processo de elaboração de testes e da análise das respostas dadas pelas pessoas avaliadas. Hoje em dia, os modelos da TRI são utilizados num grande número de programas de avaliação de aproveitamento académico a grande escala, entre os quais se encontram o National Assessment of Educational Progress (NAEP), o Third International Mathematics and Science Study (TIMSS), entre outros. A amplitude no número de aplicações não se pode entender sem ter em consideração o impulso que o desenvolvimento informático das últimas décadas trouxe para a TRI, uma vez que permitiu dispor de programas informáticos cada vez mais potentes e fáceis de utilizar para responder aos requisitos de computação que pressupõe o uso dos modelos de resposta aos itens.
A denominação teoria de resposta aos itens (TRI) assinala uma mudança de enfoque na análise. A TRI está mais interessada nas propriedades dos itens, enquanto a TCT se interessa mais pelas do teste no seu conjunto.
A TRI supera algumas das limitações mais importantes da TCT. A principal contribuição da TRI é que proporciona medidas invariantes ao: 1) obter medições que não variam em função do instrumento utilizado; 2) dispor de instrumentos de medida cujas propriedades não variam em função das pessoas a quem se aplicam (Muñiz, 1990) [p.334].
A TRI deve ser abordada como um conjunto de modelos e métodos estatísticos pensados para fundamentar os dados procedentes da medição psicológica (Steinberg e Thissen, 1996). Este conjunto de modelos compartilha uma série de pressupostos e conceitos com outras teorias de testes: a) a existência de um construto inobservável que subjaz às respostas aos itens; b) a inferência sobre a existência do construto a partir da covariação entre as respostas aos itens; c) a relação monotónica entre a probabilidade de dar uma determinada resposta ao item e ao nível no construto.
A TRI fornece soluções satisfatórias a problemas difíceis de resolver pela TCT: a equivalência entre as traduções de testes a diferentes idiomas, a similaridade de testes, a detecção de itens com um funcionamento diferencial, etc. No entanto, foi no plano das soluções onde a TRI mostrou uma clara superioridade sobre a TCT: os bancos de itens, os testes adaptativos informatizados, a comparação de pontuações entre testes equivalentes, a construção automatizada de testes, etc. [p.335].

Bancos de itens
Segundo Barbero (1999), “banco de itens” refere-se a “um conjunto mais ou menos numeroso de itens, que medem o mesmo traço ou habilidade, e que se armazenam de tal maneira que, chegado o momento, se possa eleger de entre todos os que melhor se adaptam às necessidades de uso”. Este apresenta, também, os passos para a construção de um banco de itens: a) definição da estrutura do banco; b) desenvolvimento e análise qualitativa dos itens; c) escolha do desenho de recolha de dados; d) aplicação dos itens; e) análise dos itens e ajuste dos dados a um modelo; f) aferição dos itens; e g) armazenamento da informação [p.335].
O grande número de itens que são necessários para elaborar um banco útil torna impossível a aplicação de todo o conjunto de itens seleccionados a uma única amostra de sujeitos. Deve-se, então, recorrer a desenhos especiais de recolha de dados com os quais se costumam aplicar diferentes conjuntos de itens a amostras distintas de pessoas. Ao seleccionar o tipo de desenho deve-se ter em consideração diferentes factores, tais como o tipo de inferência que se realiza a partir dos dados, as investigações do modelo de medida, as características dos métodos de estimação de parâmetros, etc. [p.336].

Testes adaptativos
Ao contrário do que acontece com os testes elaborados segundo a TCT, os testes adaptativos não utilizam o mesmo conjunto de itens para todos os examinados, sendo que apresentam a cada um os itens mais adequados para estimar a sua habilidade. Os testes adaptativos não requerem necessariamente o emprego de um computador para seleccionar ou apresentar os itens, porém é inquestionável que o facto de o banco de itens ser gerido por um sistema informático lhe proporciona diversas vantagens. Daí a denominação genérica de testes adaptativos informatizados (TAI) (Olea e Ponsoda, 1996). O desenvolvimento deste tipo de teste está intimamente ligado à evolução do software necessário para a sua utilização [p.336].
Comparativamente aos testes tradicionais, os TAI apresentam algumas vantagens, entre elas, maior eficácia e flexibilidade; redução do tempo de avaliação; redução do número de itens apresentados ao sujeito; e aumento da precisão das estimativas (Olea e Ponsoda, 1996; Renom e Doval, 1999) [pp.336,337].


Classificação dos Testes Psicométricos

Os testes são, geralmente, classificados segundo um só critério. Assim, existem classificações em função de critérios de conteúdo (funções psicológicas que o teste pretende avaliar), onde se encontram os testes de inteligência, testes de personalidade, etc; em função de critérios materiais, existindo, então, testes manipulativos, testes de papel e lápis, etc; em função de critérios baseados na população a que se destinam, pelo que encontramos testes infantis, testes para adultos, etc; e, mais frequentemente, em função do critério relativo ao modo de aplicação: testes individuais, testes colectivos, etc.
Segundo a estratégia de construção, os testes podem ser, ainda, classificados em teóricos, empíricos e analítico-factoriais. Tendo em conta o tipo de rendimento que se pretende avaliar (classificação de Cronbach), podem ser testes de rendimento máximo e testes de rendimento típico. Os testes de rendimento máximo pretendem avaliar os níveis de rendimento mais altos que o sujeito consegue atingir (testes de inteligência e/ou testes de aptidões) e dividem-se em testes de potência (nível de dificuldade) e testes de velocidade (rapidez de execução). Os testes de rendimento típico compreendem todos os instrumentos que pretendem conhecer a forma como um indivíduo geralmente se comporta (testes de personalidade, etc) [p.337].

Testes de Inteligência Individuais
A avaliação da inteligência tem o seu início com a publicação da escala métrica de inteligência de Binet e Simon, em 1905, a qual foi por muito tempo a única em uso para o efeito. A sua estratégia de elaboração era racional, uma vez que esta prova assentava na avaliação de um conjunto de funções cognitivas relacionadas com a inteligência, a qual era entendida como uma capacidade global. Nas suas primeiras versões, a escala de Binet media a inteligência em termos de idade mental. Só mais tarde se passou a utilizar o QI (Quociente de Inteligência), o qual divide a idade mental (IM) pela idade cronológica (IC). Wechsler introduz, posteriormente, o QI de desvio, transformando-o, assim, numa pontuação típica normalizada com média de 100 e desvio padrão de 15. É esta a unidade de medida que actualmente se utiliza na maioria dos testes individuais de inteligência geral.
Relativamente aos testes colectivos, os testes individuais possuem uma aplicação mais demorada e requerem uma maior prática por parte do psicólogo que os administra, dado que se aplicam tarefas muito diferentes; proporcionam mais informação; e permitem a observação do sujeito durante a sua execução, pelo que são os mais indicados em contextos clínicos.
Neste momento, os principais testes individuais de inteligência geral são as Escalas de Wechsler e as Escalas de Kaufman (ver Anexo I). Ambas concebem a inteligência como um conjunto de habilidades ou capacidades que permitem a adaptação do sujeito às exigências colocadas pelo meio. Tal faz com que estas escalas sejam compostas por variadíssimas tarefas. Implícito a ambas as escalas está, ainda, o facto de encararem o desempenho do indivíduo, no momento de avaliação, como algo estável e, portanto, indicador de futuros desempenhos. É, pois, frequente o seu uso para fins de classificação e/ou de diagnóstico preliminar. Apresentam, porém, diferenças ao nível da classificação de tarefas, uma vez que as Escalas de Kaufman se baseiam no tipo de processamento, enquanto as Escalas de Wechsler se baseiam nos conteúdos [pp.338- 340].

Testes de Inteligência Colectivos
Ao nível prático, os testes colectivos implicam, geralmente, um maior grau de estruturação do que os individuais, pois requerem respostas de escolha múltipla. Por outro lado, coloca-se a questão de saber até que ponto as instruções são compreendidas por quem os executa, visto que o sujeito se encontra sozinho face à tarefa. Não obstante, a sua utilização tornou-se frequente, uma vez que são mais económicos, e de aplicação e correcção rápidas, permitindo aplicações massivas e exigindo menor formação por parte do avaliador.
Ao nível teórico, as teorias monofactoriais (existência de uma única capacidade global), bem como as multifactoriais (existência de aptidões independentes ou factores específicos relacionados com diferentes tipos de tarefas) exerceram grande influência sobre o desenvolvimento das posturas teóricas acerca deste construto. Alguns investigadores associaram à inteligência global um factor geral de inteligência: o factor g (relacionado com tarefas não verbais de raciocínio inductivo) [p.340].
Spearman cria uma teoria bifactorial da inteligência, uma vez que sugere que esta estaria composta por dois tipos de factores: um comum a todas as tarefas, o factor g (que constituiria a essência da inteligência), e outros específicos, indicadores de uma aptidão específica. Face a esta postura, Thurstone apresenta uma estrutura simples, onde supõe que um conjunto de aptidões primárias distintas influi sobre o rendimento observado nos testes. Cada uma destas aptidões representa uma habilidade específica, não existindo, porém, qualquer correlação entre si, na medida em que são independentes [p.341].
Surge, mais tarde, uma postura integradora, representada pelos sistemas hierárquicos. A teoria bifactorial de Cattell merece destaque. Baseia-se num modelo que se encontra dividido em três níveis, e onde se encontram unidas as teorias de Spearman e Thurstone. No primeiro nível, temos a inteligência geral; no segundo nível surgem dois tipos de inteligência: Inteligência Fluída (Gf) (ver quadro abaixo) e Inteligência Cristalizada (Gc) (ver quadro abaixo), os quais derivam do primeiro. Por fim, o terceiro nível é constituído pelos factores específicos Gf (avaliados por testes livres de influência cultural) e pelos factores específicos segundo a teoria de Thurstone (avaliados por baterias de aptidões) [p.342].
Gf: muito determinada por factores hereditários e fisiológicos, representando a inteligência básica de um indivíduo.
Gc: manifesta-se em tarefas de compreensão e rendimento, as quais requerem a utilização dos conhecimentos anteriormente adquiridos pelo indivíduo.
A medição da inteligência geral com instrumentos colectivos tem como principal característica o facto de se centrar na realização de tarefas perceptivas de complexidade crescente, as quais se supõe constituírem medidas bastante puras do factor g. Um exemplo de uma destas técnicas é o teste de Matrizes Progressivas de Raven (ver Anexo I), cujo objectivo é medir o raciocínio abstracto [pp.343,344].
A medição de aptidões múltiplas caracteriza-se por um formato múltiplo: diversos subtestes, que avaliam diferentes habilidades, formam um único instrumento. Os principais exemplos de baterias de aptidões são o PMA (Teste de Aptidões Mentais Primárias) e o DAT (Teste de Aptidões Diferenciais). Ambos constituem testes de rendimento máximo, sendo o primeiro um teste de potência e o segundo um teste de velocidade.
A medição de aptidões segundo uma perspectiva monofactorial encontra o seu expoente máximo nos TAI (testes adaptativos informatizados), realizados segundo a teoria de resposta ao item, sendo o TRASI (Teste Adaptativo Informatizado para a avaliação do Raciocínio Sequencial) um exemplo deste tipo de testes [p.344].

Testes de Personalidade
Partindo do pressuposto de que a personalidade é o que nos permite predizer a forma como uma pessoa reage perante uma determinada situação, e que o comportamento humano pode ser ordenado e medido segundo dimensões (relativamente estáveis), como as características que nos identificam. Estes testes propõem-se avaliar a personalidade do indivíduo a partir de um modelo de traços, tanto numa perspectiva multidimensional como características mais específicas e que representem uma amostra de comportamentos generalizáveis no tempo e em indivíduos [p.346].

Questionários de personalidade multidimensionais
Segundo Colom (1998), as três teorias factoriais existentes para os diferentes modelos de personalidade são distintas e caracterizam-se como hierárquicas e congruentes entre si, distinguindo algumas características básicas da personalidade, umas mais centradas nos factores primários e a outra nos secundários [pp.346, 347].
Guilford (mais centrado nos factores primários) estuda factores temperamentais, estabelecendo 13 factores primários e básicos, 4 secundários e ainda 1 global, a saúde emocional. Cattel (mais centrado nos factores primários) estuda as estruturas dos factores temperamentais e motivacionais em indivíduos normais, comparando-os com indivíduos com alterações psicopatológicas. Destaca 16 factores temperamentais primários em pessoas normais e 12 relacionados com perfis psicopatológicos, de entre os quais 7 são relacionados com depressão e 5 são clínicos clássicos. Identifica ainda 8 factores secundários comuns. Eysenck (mais centrado nos factores secundários) estuda os superfactores que constituem as dimensões essenciais para descobrir a personalidade: psicoticismo, extroversão e neuroticismo – sistema PEN.
Posteriormente, surge a teoria dos “Big Five” (ver Anexo II), que consiste na taxonomia que resulta da análise dos termos linguísticos utilizados pelos indivíduos para descreverem características pessoais, estabelecendo esta cinco factores: extroversão, cordialidade, meticulosidade, estabilidade emocional e cultura ou abertura à experiência.
Teoricamente, e segundo Wiggins (1973), a avaliação da personalidade segundo os modelos de traços assenta nos seguintes pressupostos: cada item tem um significado semelhante para indivíduos diferentes; um indivíduo é hábil a compreender e descrever fielmente o seu auto-conceito e personalidade; o indivíduo é honesto; o comportamento de um indivíduo é estável ao longo do tempo.
A grande limitação ao nível destes pressupostos reside no facto destes parecerem contraditórios na medida em que, por um lado, recorre-se a técnicas tão estruturadas na aplicação dos procedimentos, correcção e classificação, de tal forma que a posição do avaliador pode considerar-se como objectiva, mas por outro, estas dependem exclusivamente do indivíduo avaliado.
Assim, a estrutura global da personalidade do indivíduo resulta da soma das pontuações de determinados factores de comportamento avaliados a partir de diferentes itens com normas específicas de interpretação, de aplicação individual ou de grupo, em que o indivíduo responde num formato muito estruturado e de resposta fechada, às quais são atribuídas uma pontuação [p.348].
Tal como foi anteriormente mencionado, os testes de personalidade podem ser construídos com base em três esquemas: teórico/racional; empírico; analítico-factorial [pp.348, 349].

O esquema teórico surge do modelo de T. Millon, sendo o MCMI (Inventário clínico multiaxial de T. Millon) um bom exemplo da sua aplicação (ver Anexo II). O processo de validação/construção ocorre em três etapas:
1. “Teórico-substantiva”, que consiste em orientar a redacção dos itens em função da definição dos diferentes traços de personalidade e dos síndromes. O objectivo é examinar até onde os pontos que constituem o instrumento derivam duma estrutura teórica explícita.
2. “Interna-estrutural”, que consiste em aplicar os itens, que tenham ultrapassado a fase anterior, a populações adequadas, com vista a seleccionar os itens que mais contribuem para a consistência interna da escala, estabilidade das medições ou estrutura factorial desejada.
3. “Criterial-externa”, que consiste em analisar as relações entre cada escala do teste e uma variedade de medidas não escalonáveis de traços, e a sua relação com comportamentos clínicos relevantes. Esta análise, em conjunto com outros instrumentos de avaliação, permite estudar as evidências convergentes e discriminatórias das escalas.

O esquema empírico pretende avaliar um grande número de padrões de personalidade e transtornos emocionais, destacando como exemplo o teste MMPI (Minnesota Multiphase Personality Inventory) (ver Anexo II) [p.350].

No esquema analítico-factorial incluem-se, a título de exemplo, os testes 16 PF (Sixteen Personality Factor Questionnaire Test) aplicáveis a indivíduos de 16 anos de idade e o BFQ (Big Five) (ver Anexo II) [p.350].

Escalas e questionários de traço único
O grupo de testes psicométricos de personalidade de traço único é utilizado, fundamentalmente, para fins clínicos ou de investigação. Os pressupostos teóricos e formas de aplicação, correcção e interpretação, são idênticos aos instrumentos multifactoriais, diferindo no facto destes serem apenas aplicados para fins concretos, cujo objectivo é avaliar uma característica particular (e.g. ansiedade, motivação) [pp.350,351].


Presente e Futuro dos Testes Psicométricos

Apesar das questões e críticas levantadas à avaliação psicológica ao longo da sua história (o que poderia pressupor o seu desuso), os testes psicológicos são, hoje, um dos instrumentos mais utilizados. Este facto deve-se aos objectivos da sua aplicação, nos quais se revelam bastante úteis, na medida em que permitem efectuar perfis comparativos em situações como: a selecção profissional e/ou educativa, permitindo avaliar um grande número de indivíduos em simultâneo; o diagnóstico, em que por vezes é necessário contrastar correlacionalmente determinadas hipóteses antes da aplicação de outros procedimentos; a orientação escolar e/ou profissional, a qual implica a descrição de um indivíduo com vista a uma tomada de decisão.
Assim, podemos concluir que se justifica a utilização dos testes de avaliação quando o objectivo é comparar um indivíduo com um grupo. No entanto, salienta-se a importância de rever as suas características, analisar o objectivo da sua aplicação, bem como a aplicação que se lhe pretende dar e as garantias da sua qualidade.
Perspectiva-se que, no futuro, este tipo de testes continuarão a ser utilizados e que, auxiliados pelo desenvolvimento da ciência, poderão sofrer algumas alterações no seu desenho, um aumento das suas garantias e, provavelmente, uma redução nos custos da sua aplicação [p.352].



Anexo I (Clicar na imagem para aumentar)



Anexo II (Clicar na imagem para aumentar)






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