Ficha de Leitura V - Carla Tanganho [24134]

A presente ficha de leitura tem por temática a entrevista. Ela é o início e o fim de qualquer avaliação psicológica, uma vez que, numa primeira entrevista, é dos dados recolhidos por meio desta técnica que se procede à identificação das variáveis relevantes e à elaboração de hipóteses e, é também através dela que se comunicam ao sujeito os resultados obtidos. Mas no que consiste a entrevista? A entrevista tem subjacente um encontro entre duas ou mais pessoas, que passa por uma conversação, em que uma tem como principal papel formular questões e a outra respondê-las, pelo que existe uma diferenciação clara de papéis. O objectivo é recolher o máximo de informação acerca do respondente. No caso particular da entrevista enquanto instrumento de avaliação psicológica, esta pressupõe a comunicação entre o psicólogo e o paciente/cliente com vista à obtenção de informações acerca deste, as quais se pretendem de qualidade. Tal é proporcionado pela maior ou menor estruturação que caracteriza a entrevista, sendo que entrevistas mais estruturadas garantem maior precisão nas respostas dado o seu carácter mais directivo.

Considero a entrevista um instrumento de recolha de informação extremamente completo, visto que ao mesmo tempo que dispomos do auto-relato do sujeito, podemos observar o seu comportamento e podemos estabelecer uma relação directa capaz de propiciar um clima de confiança entre entrevistador e entrevistado. Tal relaciona-se com a questão da empatia, a qual passa por demonstrar uma atitude de compreensão para com o entrevistado. No entanto, tal não significa deixar-se levas pelas emoções, pelo que é importante saber manter a devida distância. Nesta perspectiva, a entrevista não deve, pois, constituir um mero interrogatório, na medida em que a pessoa que é entrevistada deve sentir-se o mais à vontade possível, por forma a ser sincera relativamente à informação que transmite.

Constituindo a entrevista uma forma de comunicação entre duas ou mais pessoas, é fundamental que o entrevistado entenda devidamente aquilo que lhe é perguntado. Para tal, há que ter em consideração a idade do sujeito a entrevistar, bem como o seu nível cultural e intelectual, pelo que a linguagem utilizada pelo entrevistador deve ser o mais acessível possível ao entrevistado. Este é um aspecto importante, pois o entrevistado poderá começar a responder de forma vaga ou mesmo em oposição àquilo que realmente pensa pelo simples facto de não entender a mensagem transmitida pelo entrevistador. Há que ter ainda em conta que, a partir do momento em que a entrevista pressupõe uma interacção, quer o entrevistador quer o entrevistado, cada um com as suas características pessoais, podem influir no decurso da mesma. Cabe, portanto, ao profissional que tem a seu cargo a condução da entrevista conseguir gerir convenientemente a mesma de modo a que a informação daí obtida seja válida. Daqui se depreende que não é qualquer pessoa que está habilitada para realizar uma entrevista, nomeadamente no contexto de uma avaliação psicológica, uma vez que tal pressupõe preparação, experiência, e uma boa dose de sensibilidade.

Um aspecto que julgo de bastante interesse é o que se relaciona com esta ser uma técnica que tem por base o pressuposto de que eventos do nosso passado podem influir consideravelmente nos nossos comportamentos actuais. Acredito veementemente em tal afirmação e atrevo-me mesmo a dizer que aquilo que somos hoje é fruto de circunstâncias passadas. A entrevista possibilita, assim, uma visão global de todo o percurso do paciente/entrevistado, na medida em que desvenda tudo o que ficou para trás no tempo e não só o que se verifica no presente. Penso que este é o melhor caminho a seguir, ainda mais quando o objectivo máximo de qualquer avaliação psicológica é conhecer aprofundadamente o sujeito que busca tal serviço. Até porque quanto mais soubermos acerca de um sujeito, melhor o poderemos ajudar.

No que respeita ao trabalho de campo que nos foi solicitado no seguimento desta ficha de leitura, e que consistiu na simulação de um role-play entre os vários elementos o grupo, tenho a dizer que apesar das dificuldades sentidas, o resultado final foi, na minha opinião, positivo. Penso que estivemos à altura do desafio e tenho apenas a salientar um aspecto, que se prende com o facto de, a meu ver, esta experiência não ter contribuído em muito para a minha aquisição de competências. Antes de mais, tivemos algumas dificuldades na feitura do guião, pois não conseguimos obter informação suficiente que nos ajudasse na sua realização. Em segundo, como se não bastasse ter de criar as questões de raiz, tivemos ainda de inventar respostas, o que acabou por se tornar ainda mais trabalhoso e retirou alguma verosimilhança à situação. Acho que a experiência teria sido mais enriquecedora se tivéssemos tido a oportunidade de, de facto, entrevistar alguém que não um elemento do grupo. Apesar de tudo, confesso que esta experiência acabou por se revelar um momento algo divertido.

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