Ficha de Leitura IV - Carla Tanganho [24134]

A elaboração da ficha de leitura nº 4 ofereceu-nos um novo olhar acerca de algo que tão comummente fazemos no nosso dia-a-dia: observar. Não existe um único dia da nossa vida que não o façamos. Para percebermos de facto a sua importância, basta pensarmos que existe tanta coisa que aprendemos pela simples observação de outros, e que o observar nos permite um contacto privilegiado com tudo o que nos rodeia. No entanto, a observação de que aqui falamos é aquela que serve os propósitos da Psicologia: conhecer e compreender o ser humano. Ela é, pois, dotada de um método, o que torna possível que as conclusões que se obtêm por esse meio sejam dotadas de uma maior credibilidade.

Enquanto técnica de avaliação psicológica, a observação possui um papel privilegiado no que concerne à obtenção de informação acerca de um indivíduo. Isto porque pressupõe, antes de mais, o contacto (directo ou indirecto) com a pessoa que é objecto de observação, além de que muito se pode extrair da simples forma como uma pessoa se comporta: percebemos as emoções associadas àquilo que o sujeito relata, percebemos os temas com os quais não se sente à vontade, percebemos traços gerais de personalidade, entre outros. Neste sentido, ela encontra-se, de alguma forma, relacionada com outras técnicas de recolha de informação no âmbito da Psicologia, pois no decorrer de toda uma entrevista, por exemplo, ela reveste-se de particular importância no que respeita a captar aquilo que o sujeito deixa de dizer em palavras e diz apenas por gestos ou expressões.

Contudo, a observação enquanto técnica de recolha de informação por si só, e não apenas como complemento de outra, engloba todo um conjunto de procedimentos que a dotam do espírito científico característico da Psicologia, mais concretamente da avaliação psicológica. Assim, é necessário realizar toda uma série de passos com vista à obtenção de informação válida. Afigura-se, pois, de extrema importância o estabelecimento de todo um protocolo, o que começa pela definição da unidade de observação, da unidade de medida, da técnica a utilizar, do local da observação e do tempo que vai decorrer desde o seu início até ao seu término, sendo que da definição da primeira derivam todas as outras. Percebemos, então, a complexidade por detrás de todo o processo observacional, nomeadamente no que passa pela sua preparação.

Apesar de todas as fases que a constituem serem, obviamente, insubstituíveis, penso que a definição da técnica de registo do comportamento a observar se reveste de particular importância, pois a sua adequabilidade é algo fulcral no que respeita a evitar possíveis enviesamentos. Contudo, não é este o único factor a ter em causa quando falamos de possíveis fontes de erro no âmbito da observação. Também o treino do observador, o seu grau de participação na observação, as suas expectativas e mesmo características gerais podem influenciar a forma como os dados serão obtidos. Tal conduz, inevitavelmente à seguinte questão “Será que dois observadores diferentes recolheriam a mesma informação acerca de um mesmo comportamento? Obteriam os mesmos dados?”. Penso que apesar da existência de todo um conjunto de regras a seguir para a realização de uma observação, cada observador não deixa de ser uma pessoa singular, com as suas vivências muito particulares, os seus valores, os seus gostos. É, pois, essencial uma grande dose de imparcialidade por parte do profissional que observa, de modo a que as conclusões que retire de uma determinada observação sejam as mesmas que retiraria outro observador nas mesmas circunstâncias.

Relativamente ao trabalho prático que nos foi solicitado no seguimento desta ficha de leitura, tenho a dizer que tanto eu como os restantes elementos do grupo sentimos muitas dificuldades na sua execução. Não que a observação em si tenha sido difícil (apesar de requer bastante atenção), mas no que respeita, por exemplo, à forma como deveríamos registar e apresentar os resultados obtidos sentimo-nos um pouco “às escuras”. Sabíamos qual a técnica de registo que melhor se adequava ao comportamento que queríamos observar, mas desconhecíamos a forma como deveríamos, na prática, registar o mesmo. Por outras palavras, sabíamos que deveríamos recorrer a um registo de conduta, apenas não sabíamos qual a forma de o realizar tendo em conta o comportamento em análise. Acabámos por fazer uma tabela que nem sabemos se terá sido adequada à técnica de registo escolhida. Porém, apesar desta dificuldade em particular, penso que este trabalho acabou por ser útil na medida em que conseguimos perceber as dificuldades reais associadas ao trabalho de um psicólogo aquando de uma observação.

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